Quem é você na fila do pão? Essa frase é bem antiga. Mas me lembro de ter achado especialmente interessante o emprego dessa pergunta, por duas entrevistadoras de um podcast chamado Mamilos, que ao iniciar o programa de forma provocativa jogavam a resposabilidade para os próprios convidados se apresentarem respondendo à pergunta: “quem é você na fila do pão?”
O convidado começava a falar das suas experiências profissionais, currículo e outras coisas que julgasse oportuno, mas de forma breve, para contextualizar ao ouvinte, que contribuições poderia trazer para o tema do dia.
Eu adorava esse momento, pois tinha curiosidade em saber como a pessoa ia resumir brevemente seus saberes e experiências. E na fila do pão, cada um com suas devidas particularidades, temos bastante coisa em comum.
Se eu me apropriar dessa pergunta para fins didáticos nesse texto, podemos pensar criativamente, em como as pessoas são na fila do pão das suas próprias carreiras. Acompanhe comigo.
Vamos inventar algumas categorias aqui apenas como exercício?
O hiper focado na carreira e rígido com seus objetivos;
o distraído que passa pela vida ao sabor do vento à espera das “oportunidades”;
o volúvel que segue as modinhas e muda a cada estação;
o insatisfeito com o cenário atual da própria carreira, que reclama de tudo e pouco faz para mudar o cenário.
Você imagina mais algum tipo, qual?
Enfim, mais do que categorias ou tipos, o que importa é que existem muitas formas de passarmos pela vida, inclusive a profissional, que escolhas fazemos e quanto estamos atentos ao que de fato “funciona muito bem em nós”.
E você, se fosse responder brevemente sobre sua carreira e sua especialidade, diria o quê? Quem é você na fila do pão?
A ideia aqui é que muito da nossa dificuldade em relação a como gerir nossa carreira, se deve ao fato de não termos aprendindo a como olhar para o que temos de melhor em nós e desenvolver isso ao máximo.
E isso leva a próxima camada dessa história toda: fazemos escolhas profissionais que nos distanciam do que mais somos realmente bons em fazer.
Tentamos nos enquadrar no que esperam de nós, quando na verdade, nosso maior potencial está em desenvolvermos quem nós somos e colocar isso tudo pra jogo.
Vamos agora dar um exemplo de uma pessoa introvertida que acredita precisar mudar para ter sucesso.
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Faça um quadro mental comigo enquanto descrevo uma pessoa, imagine alguém bastante introvertido, gosta de ficar mais tempo sozinho, é uma pessoa que tem foco, que reflete bastante sobre os assuntos, mas não necessariamente deseja expressar aos outros o que pensa e sente, não gosta muito de fazer networking e evita conhecer pessoas novas.
Supondo que essa pessoa seja chamada pelo seu chefe que diz: “percebo que você desempenha muito bem seu papel aqui na empresa, mas você é muito quieto, quase não sai para almoçar com seus colegas, receio que isso possa te impedir de assumir uma chefia, ainda mais na área de vendas. Por isso quero sugerir que faça uns cursos sobre como se relacionar mais com as pessoas e quem sabe, consiga ser mais extrovertido”.
Essa pessoa até pode se “esforçar” por muitas horas e fazer cursos para ser mais extrovertido, começar a participar de várias eventos e se colocar em evidência em situações sociais.
Pode tentar ser um extrovertido para conseguir uma função desejada. Mas sabemos que esse lugar de extroversão não se sustenta a longo prazo.
Sem dizer o seguinte, pessoas introvertidas não podem trabalhar com vendas? Quem foi que falou isso? As pessoas insistem em focar naquilo que elas “julgam estar errado em nós”, quando deveriam focar no que está certo.
Imagine que essa pessoa introvertida tenha alta empatia, seja muito forte em estabelecer vínculos com uma pessoa, que tenha a habilidade de ler as pessoas e perceber as sutilizas dos seus gestos, comportamentos, tenha foco e seja muito estratégica.
Muito bem, ele pode usar todas essas habilidades para fazer vendas, criar vínculos e gerenciar equipes a sua moda, não é mesmo? Eu conheci várias pessoas introvertidas que eram extremamente estratégicas e conseguiam fazer ótimas vendas.
Pergunte-se: como um introvertido vende? Quais as estratégias quer usar? Como usar seus “super poderes” para influenciar pessoas nas vendas?
Descubra como você pensa, sente e costuma se comportar e aprimore isso.
Vamos imaginar três pessoas na área de vendas, todas com introspecção como traço central, mas com talentos distintos que influenciam profundamente suas abordagens e ações.
O Vendedor Adaptável
Nosso primeiro introspectivo tem um talento natural para foco e adaptabilidade. Imagine um vendedor que, mesmo quando as preferências do cliente mudam repentinamente, mantém a calma e a concentração.
Ele é como um surfista em meio a uma tempestade, ajustando sua abordagem conforme as necessidades do cliente.
Se destaca por responder rapidamente às mudanças, oferecendo soluções que se alinham perfeitamente com as novas expectativas, garantindo sempre a satisfação do cliente.
O Vendedor Analítico
O segundo introspectivo também possui foco, mas combina isso com um talento analítico aguçado.
Pense nele como um detetive meticuloso em vendas, que examina todos os detalhes das necessidades e comportamentos dos clientes.
Analisa meticulosamente os dados de vendas, identificando padrões e oportunidades.
Com essa compreensão profunda, ele pode se concentrar nas prioridades mais críticas, oferecendo propostas que atendem exatamente ao que o cliente precisa, resultando em vendas precisas e eficazes.
O Vendedor Futurista
Nosso terceiro introspectivo mantém o foco, mas o combina com uma visão futurista.
Imagine um vendedor que vê além das necessidades imediatas do cliente e antecipa futuras demandas do mercado.
Seus sonhos sobre o futuro se tornam realidade porque ele concentra seus esforços diários em construir relacionamentos duradouros e em preparar soluções que atendam às tendências emergentes.
Ele transforma visões grandiosas em ações concretas, oferecendo produtos e serviços que não só atendem, mas superam as expectativas dos clientes.
Note como esses três vendedores introspectivos, apesar de compartilharem o mesmo traço central, lidam com suas situações de maneiras totalmente diferentes? Suas combinações únicas de talentos moldam suas abordagens e resultados, mostrando que mesmo características semelhantes podem levar a caminhos diversos e igualmente valiosos na área de vendas.
Aqui ninguém precisou fazer curso para ser o carismatico! Isso não rola, a ideia é combinar da melhor forma possível os talentos que tem e sobre esses talentos colocar esforço, adquirir habilidades e aperfeiçoar o máximo que puder.
Nenhum talento é individual. Os seres humanos são complexos e mais do que apenas traços de personalidade. Há interconexões/combinações dos seus talentos. Olha só quanto potencial tem a ser explorado nisso 👀.
Ninguém precisa deixar de ser como é ou tentar ser igual a outra pessoa para ter ótimos resultados.
Independente da fase da sua vida e carreira em que se encontra, ainda dá tempo de se questionar o seguinte:
Em vez de se perguntar qual o melhor trabalho / carreira para você, pergunte-se: como usar da melhor forma possivel seus talentos inatos e a melhor combinação deles na carreira que você já tem?
Olhe para dentro e descubra com detalhes como usar sua singularidade com maestria.
Para isso você precisará se tornar um especialista de si mesmo. Saber o que te motiva, o que te faz bem e como você realiza certas atividades de maneira melhor que outras pessoas.
Um dos meus clientes compartilhou uma história inspiradora durante um dos meus cursos ao vivo. No início de sua carreira, ele foi convidado a liderar uma equipe, sua primeira experiência como líder. Ele ficou empolgado com o reconhecimento e o desafio, além do aumento de salário.
Alguns anos depois, ele havia se tornado um líder experiente, alcançando excelentes resultados com sua equipe.
No entanto, algo o incomodava profundamente: ele se distanciou das atividades que mais amava, como fazer cálculos matemáticos, mergulhar em busca de soluções, e trabalhar em silêncio, refletindo e analisando.
Era nesse ambiente que ele se sentia mais vivo e produtivo, onde suas contribuições eram inigualáveis.
Você já se sentiu assim? Conseguiu alcançar grandes feitos, mas percebeu que, ao se afastar do que realmente ama fazer, sua satisfação pessoal diminuiu?
Claro, todos nós somos capazes de aprender novas habilidades e nos adaptar. Meu cliente dedicou anos a aprender sobre liderança e equipes, obtendo ótimos resultados.
Mas, no fundo, ele estava infeliz e insatisfeito. Isso porque, a longo prazo, se continuarmos nos esforçando para sermos bons em algo que não gostamos, acabaremos exaustos, física e mentalmente.
Pode ser que você esteja passando por isso agora.
Existe alguma atividade que você faz bem, com dedicação e empenho, mas que no final do dia o deixa exausto?
Isso pode ser um sinal de que você está investindo energia em melhorar algo em que é apenas mediano, ao invés de focar naquilo que é naturalmente excelente.
Meu cliente tomou uma decisão corajosa que foi contra a maré: ele pediu para voltar a ser um especialista, sem as responsabilidades de liderança.
Seu pedido foi atendido, e sua performance, alegria e engajamento aumentaram significativamente. Ele redescobriu sua melhor versão ao fazer o que realmente amava e onde era excepcional.
Se eu perguntasse a ele "quem é você na fila do pão?", ele provavelmente responderia: "Sou um especialista em mim mesmo. Conheço meus pontos fortes e fracos, sei o que amo e o que odeio fazer. Entendo como funciono melhor e uso isso para contribuir de maneira única e poderosa."
Você também pode ser um especialista de si mesmo. Pare de tentar se encaixar em expectativas que não refletem quem você é verdadeiramente.
Olhe para dentro e descubra seus talentos inatos. Pergunte-se: como posso usar meus talentos naturais da melhor forma possível na carreira que já tenho?
Para isso, você precisará se tornar um profundo conhecedor de si mesmo. Entenda o que te motiva, o que te faz bem e como você pode realizar certas atividades melhor que outras pessoas.
Com esse conhecimento, você pode tomar decisões mais acertadas, evitar armadilhas e realmente maximizar seu potencial.
Independentemente da fase em que você se encontra na sua vida e carreira, ainda há tempo para se questionar: como posso usar melhor meus talentos inatos e a melhor combinação deles na carreira que já tenho?
Claro que a gente não faz só o que gosta, mas aqui estamos falando de algo semelhante à teoria de Pareto 80/20: vamos dedicar 80% do tempo a maximizar o uso dos talentos e 20% a gerir nossos pontos fracos.
Lembre-se que ninguém vai saber mais sobre você do que você mesmo.
É sua responsabilidade conhecer seu funcionamento, contribuições, forças e fraquezas.
Com esse conhecimento, você pode analisar suas funções no trabalho e entender como utilizar seus talentos da melhor forma; fazer escolhas mais adequadas e evitar cair nas “armadilhas” das ditas “oportunidades”.
Gerir sua carreira tem total relação com o quanto você conhece a si mesmo e usa isso em seu favor.
Dentre meus quase 2.000 leitores desta newsletter, temos presidentes e CEOs de multinacionais, diretores, empresários, profissionais liberais das mais variadas formações e microempreendedores. Posso afirmar que esse conhecimento a que me refiro se aplica a todos, independentemente da metafórica posição que ocupam hoje na “fila do pão”.
Abraço afetuoso,
Adri Ferrareto
Strengths Coach certificada pelo Gallup® Institute
Executive Coach Certificada pelo Integrated Coaching Institute (ICI)
Certificação Internacional em Coaching Integrado