O Estrangeiro: uma reflexão sobre liberdade, condição humana e o trabalho

EM
15 de maio de 2023
|
por
Adriana Ferrareto
Albert Camus (1913-1960) foi um escritor, filósofo e jornalista francês nascido na Argélia. Ele é considerado um dos maiores nomes da literatura francesa do século XX e um dos principais expoentes do existencialismo e do absurdismo. Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, então uma colônia francesa, em uma família pobre de origem pied-noir (descendentes de colonizadores franceses). Ele cresceu em um ambiente multicultural, onde conviveu com árabes e judeus, experiência que influenciou sua obra literária. Aos 17 anos, mudou-se para Argel para estudar filosofia na Universidade de Argel, mas teve que interromper seus estudos devido à tuberculose
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Li este livro no mês de abril de 2023, e confesso que fiquei "tocada" pela forma como Camus escreve e inteligentemente toca em questões tão relevantes, de uma maneira que causa um certo desconforto.

Precisei reler vários trechos, dar um tempo para digerir e olhar de fora, como quem busca com uma lanterna, um objeto perdido.

Algumas questões me vieram a mente enquanto lia:

  • quem afinal era Albert Camus?
  • confesso que nada sabia a respeito dele, e muito me interessou em que contexto histórico ele escreveu O Estrangeiro
  • outra coisa foi a questão do título: por quê O Estrangeiro?
  • e como ele desafia a moralidade convencional e nos incentiva a pensar criticamente sobre o significado da vida e nossa relação com a sociedade
  • também pensei em fazer algumas co-relações com a vida x trabalho x propósito

Compartilho aqui alguns trechos, pensamentos e questionamentos com você leitor.

Albert Camus

Albert Camus (1913-1960) foi um escritor, filósofo e jornalista francês nascido na Argélia. Ele é considerado um dos maiores nomes da literatura francesa do século XX e um dos principais expoentes do existencialismo e do absurdismo.

Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, então uma colônia francesa, em uma família pobre de origem pied-noir (descendentes de colonizadores franceses). Ele cresceu em um ambiente multicultural, onde conviveu com árabes e judeus, experiência que influenciou sua obra literária. Aos 17 anos, mudou-se para Argel para estudar filosofia na Universidade de Argel, mas teve que interromper seus estudos devido à tuberculose.

Em 1942, Camus publicou seu romance mais famoso, "O Estrangeiro", que foi seguido por outras obras importantes, como "A Peste" (1947) e "O Homem Revoltado" (1951). Seus livros abordam questões existenciais, como a busca por sentido na vida, a relação entre o indivíduo e a sociedade, a liberdade e a responsabilidade individual.

Camus também foi um ativo militante político, engajado em diversas causas, como a Resistência Francesa contra o regime de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial e a luta pela independência da Argélia. Ele foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1957, mas faleceu três anos depois em um acidente de carro, aos 46 anos de idade. Sua obra continua a ser estudada e admirada por leitores e estudiosos em todo o mundo até os dias de hoje.

Período Conturbado

Albert Camus escreveu "O Estrangeiro" em um período de intensas transformações políticas, sociais e culturais na Europa e no mundo. O livro foi publicado durante a Segunda Guerra Mundial, quando a França estava sob o regime de ocupação nazista.

Na época, a Europa estava dividida e devastada pela guerra, e a França era um país ocupado pelas forças alemãs. Muitos intelectuais e artistas, incluindo Camus, eram membros da Resistência Francesa, um movimento clandestino que lutava contra a ocupação nazista.

Além disso, uma filosofia existencialista, que influenciou profundamente a obra de Camus, estava em alta na França. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, por exemplo, foram expoentes importantes desse movimento. O existencialismo pregava que a existência humana é marcada pela liberdade e pela responsabilidade individual, e que cada pessoa deve criar seu próprio sentido para a vida.

Nesse contexto histórico, "O Estrangeiro" aborda temas como a alienação do indivíduo em relação à sociedade, a busca por sentido na vida e a relação entre o indivíduo e a lei. O protagonista, Meursault, é um estrangeiro na sociedade francesa, que não se encaixa nos padrões de comportamento e moralidade alcançados pela sociedade. Ele é visto como um "estranho", tanto pelos personagens do livro como pelo leitor, e é julgado por seus atos e sua aparente falta de emoções.

O Romance

O Estrangeiro, é um romance que tem como protagonista Meursault, um jovem francês que vive na Argélia e que, após matar um árabe sem motivo aparente, é julgado e condenado à morte. A história aborda questões existenciais e filosóficas, incluindo a relação entre o indivíduo e a sociedade, a busca por sentido na vida e o absurdo da existência humana.

Por que O Estrangeiro?

O título original faz referência ao personagem principal do livro, Meursault, um homem aparentemente apático e indiferente em relação ao mundo ao seu redor.

Meursault é retratado como um estranho (ou "estrangeiro", na tradução para o português) na sociedade em que vive, não se encaixando nas normas e convenções sociais da época. Ele é visto como um estranho, alguém que não compartilha dos valores e crenças da maioria das pessoas à sua volta.

Além disso, o título também pode ser interpretado como uma referência mais ampla à condição humana. Camus explora a ideia de que, em certo sentido, todos nós somos "estranhos" neste mundo, estranhos à nossa própria existência e ao universo que nos cerca.

Ambiguidades sobre busca por propósito no trabalho

Dentre as diversas reflexões que podem ser extraídas do livro, destaca-se a relação entre O Estrangeiro e o universo do trabalho. Essa conexão se dá através da discussão sobre a alienação, o absurdo e a busca por significado também no ambiente profissional.

A alienação no trabalho é um tema presente na obra e que se relaciona diretamente com a vida cotidiana. Meursault é um personagem que se sente distante de si mesmo e dos outros, algo que é acentuado pelo trabalho monótono que ele exerce.

"Eu não tinha nada a fazer e isso me cansava."

Essa é uma das primeiras citações do livro e mostra a relação de Meursault com o trabalho. Ele trabalha em um escritório, mas não se sente motivado ou engajado na atividade. Para ele, o trabalho é uma obrigação que o cansa e o entedia.

Muitas pessoas se sentem assim em relação ao trabalho, especialmente quando se encontram em empregos sem perspectivas de crescimento ou que não são compatíveis com suas aptidões, talentos e interesses pessoais. A falta de conexão com o trabalho pode gerar uma sensação de vazio e de falta de sentido na vida.

Meursault passa grande parte da história em busca de um sentido para sua existência, mesmo que não saiba exatamente o que está procurando.

"O sol abrasador, o esforço contínuo, a sede e a fadiga me aniquilaram. Mas não havia o menor sinal de desalento, era como se tivesse chegado ao fim de alguma coisa, e que havia chegado a uma conclusão tranquila."

Aqui vemos um trecho com a experiência de Meursault trabalhando em um canteiro de obras em um dia quente de verão. Embora a atividade seja extenuante, ele encontra uma espécie de paz interior ao final do dia. Essa descrição sugere que, para Meursault, o trabalho pode ser uma forma de encontrar um sentido ou propósito na vida. Note a outra face da percepção de Meursault sobre o trabalho e propósito.

Sensorial é o predominante

Ele se conecta com a natureza e com suas emoções, o que pode ser interpretado como uma busca por si mesmo. No universo do trabalho, a busca por significado pode ser vista em pessoas que buscam um trabalho que as realizam e que têm significado para elas, seja através de um propósito social ou de uma atividade que traga satisfação pessoal.

"Não, nada tinha mudado. Apenas estava cansado de caminhar, de pensar e de lutar. Só queria descansar um pouco."

Essa citação ocorre no final do livro, quando Meursault está prestes a ser executado. Ele percebe que nada mudou em sua vida, exceto que ele está cansado e quer descansar. Essa reflexão mostra como o trabalho e a vida podem ser vistos como um fardo, em vez de uma fonte de propósito ou significado.

"O Estrangeiro" é uma obra importante por sua exploração profunda de questões existenciais e sociais e sua influência na literatura e filosofia. Ele desafia a moralidade convencional e nos incentiva a pensar criticamente sobre o significado da vida e nossa relação com a sociedade.

Reflexões

Por isso quero finalizar essas considerações com os seguintes questionamentos sobre vida x trabalho e propósito:

  • É possível encontrar propósito no trabalho, ou ele é apenas uma atividade mundana que deve ser feita para ganhar dinheiro?
  • O que é necessário para encontrar um propósito no trabalho? É algo que pode ser encontrado em qualquer tipo de trabalho ou existem certas profissões ou atividades que são mais propensas a oferecer um senso de propósito?
  • Como a cultura do trabalho e as expectativas sociais em relação ao trabalho criaram a capacidade das pessoas de encontrar um senso de propósito em suas carreiras?
  • A pressão para encontrar um propósito no trabalho pode ser prejudicial? Como equilibrar a busca pelo propósito com a necessidade de ganhar dinheiro e sustentar a si mesmo e à família?
  • O que acontece quando as pessoas não conseguem encontrar propósito no trabalho? Como isso afeta sua saúde mental e seu bem-estar geral?

Quanto mais lermos clássicos, boa literatura, tanto mais repertório teremos para "ler" o mundo e suas complexidades. No mundo profissional, tendemos a focar em livros técnicos ligados a àrea de atuação, o que é importante, mas sugiro que possamos ir adiante, ampliar horizontes, aprender com os que já fizeram "jornadas semelhantes às nossas", afinal, todos temos um pouco de "estrangeiro" em nós.

Mais de Camus

Albert Camus publicou diversos livros de diferentes gêneros, incluindo romances, ensaios e peças de teatro. Alguns de seus livros mais conhecidos incluem:

  • O Estrangeiro (1942)
  • A Peste (1947)
  • O Mito de Sísifo (1942)
  • A Queda (1956)
  • Calígula (peça de teatro, 1944)
  • O Homem Revoltado (1951)

Alguns documentários sobre Albert Camus:

  1. "Camus, de notre temps" (Camus, Our Contemporary) - Este documentário foi produzido em 1980 e apresenta entrevistas com amigos, familiares e colaboradores de Camus. Ele também inclui cenas de arquivo e trechos de suas obras.
  2. "Albert Camus: Solitude & Solidarity" - Este documentário foi produzido em 2013 e explora a vida e o trabalho de Camus. Ele apresenta entrevistas com especialistas em Camus, cenas de arquivo e dramatizações de trechos de suas obras.
  3. "Camus, la tragédie du bonheur" (Camus, The Tragedy of Happiness) - Este documentário foi produzido em 2010 e explora a vida e o trabalho de Camus. Ele apresenta entrevistas com amigos, familiares e especialistas em Camus, bem como cenas de arquivo.

Esses documentários podem ser encontrados em plataformas de streaming, como o YouTube e o Vimeo, ou em sites especializados em documentários, como o Documentary Heaven.

Esse vídeo da The School of Life é muito bom. Vale conferir

Se você gostou dessa sugestão de leitura, compartilha com alguém!

Abraço afetuoso,

Adriana

Adriana Ferrareto

Strengths Coach certificada pelo Gallup® Institute
Executive Coach Certificada pelo Integrated Coaching Institute (ICI)
Certificação Internacional em Coaching Integrado

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Sou a Adri

Especialista em talentos humanos e estou aqui para despertar e fortalecer pessoas a usarem naturalmente suas potencialidades com autonomia, para se sentirem mais realizadas com seu trabalho e tenham uma vida mais leve e equilibrada.
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