Por isso, já saímos por aí multiplicando essa nova verdade que depois de um tempo cai por terra. Vi nas redes sociais uma brincadeira a respeito disso. Era uma tirinha que dizia o seguinte:
“Querido Glúten, a vida tem altos e baixos. Essa sua fase ruim vai passar. Com carinho, Ovo”.
Evidente que não estou falando aqui daqueles que de fato têm doença celíaca ou comprovada intolerância ao glúten. Mas sim da febre que virou não comer isso ou aquilo. Esse é apenas um exemplo do fazer por ouvir falar, sem questionar se de fato é aplicável em todos os casos, se existem alternativas.
Grayling é um filósofo que é especialista na “Arte de questionar”, esse inclusive é o nome do seu livro**. Ele nos convida a mergulhar nas perguntas para reavaliar o mundo e a forma como o vemos. Enxergar por outras perspectivas é muito salutar e desejável para todos que pretendem adquirir maturidade pessoal e emocional.
Quando buscamos respostas, minimamente saímos de um estado de comodidade. E isso exige coragem, pois vai que a resposta convida a promover alguma mudança na vida ou na forma de fazer certas coisas? Estamos dispostos a encarar as perguntas e, por sua vez, as possíveis respostas? O que faremos com as possibilidades?
Algumas perguntas para pensar:
Muitas respostas podem vir às nossas mentes frente a esses questionamentos. Mas o desafio aqui é avaliar essas tais respostas e se permitir a possibilidade da dúvida, da mudança de opinião e da vontade de buscar novas variáveis.
Conduzir a mente com perguntas em busca de outras possibilidades também nos coloca em um lugar no mínimo solitário.
Afinal, o pensamento coletivo move a forma como a maioria das pessoas pensa e vive. Questionar essa normose, que é a patologia da normalidade, é uma decisão importante para nossa evolução. Fiz um vídeo em que questiono o que é fazer a coisa certa:
Baseei-me na leitura do esplêndido livro de Michael J. Sandel que dentre outras coisas questiona:
“É errado que vendedores de mercadorias e serviços se aproveitem de um desastre natural, cobrando tanto quanto o mercado possa suportar? Em caso positivo, o que, se é que existe algo, a lei deve fazer a respeito? O Estado deve proibir abuso de preços mesmo que, ao agir assim, interfira na liberdade de compradores e vendedores de negociarem da maneira que escolherem? Essas questões não dizem respeito apenas à maneira como os indivíduos devem tratar uns aos outros. Elas também dizem respeito de como a lei deve ser e como a sociedade deve se organizar. São questões sobre justiça.”
Por isso, devemos entender que muitas coisas até podem ser a prática do momento. Mas elas são desejáveis e éticas?
Li uma história no livro O segredo judaico de resolução de problemas, que vale contar aqui para ilustrar o poder de uma pergunta bem feita:
“Conta-se de um incidente durante a Idade Media em que uma criança de um lugarejo foi encontrada morta. Imediatamente acusaram um judeu de ter sido o assassino, e alegou-se que a vítima fora usada para a realização de rituais macabros. O homem foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento. Pediu então que trouxessem um rabino com quem pudesse conversar. E assim foi feito.
Ao rabino lamuriou-se, inconsolável pela pena de morte que o aguardava; tinha certeza que fariam tudo para executá-lo. O rabino o acalmou e disse: “Em nenhum momento acredite que não ha solução. Quem tentará você a agir assim é o próprio Sinistro, que quer que você se entregue à ideia de que não há saída”.
“Mas o que devo fazer?”, perguntou a homem angustiado. “Não desista, e te será mostrado um caminho inimaginável”.
Chegado o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar o pobre homem, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo e uma oportunidade para que demonstrasse sua inocência. Chamou-o e disse: ‘Já que vocês são pessoas de fé, vou deixar que o Senhor cuide desta questão: vou escrever num pedaço de papel a palavra “inocente” e em outro “culpado”. Você escolherá um dos dois e o Senhor decidirá seu destino.
O acusado começou a suar frio, sabendo que aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira. E tal qual previra, o juiz preparou dois pedaços de papel que continham ambos a inscrição “culpado”. Normalmente se diria que as chances de nosso acusado acabavam de cair de 50% para rigorosamente 0%. Não havia nenhuma chance estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição “inocente”, pois o mesmo não existia.
Lembrando-se das palavras do rabino, a acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos que acima mencionávamos, avançou por sobre os papeis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram: “O que você fez? Como vamos saber agora qual a destino que lhe cabia?”. Mais que prontamente, respondeu: “É simples. Basta olhar o que diz o outro papel, e saberemos que escolhi seu contrário”.
Descobrimos então que a chance de 0% era verdadeira apenas para as limites impostos para uma dada situação. Com um pouco da sagacidade da necessidade, foi possível recriar um contexto onde as chances do acusado de superar a adversidade saltaram de 0% para 100%. Ou seja, a simples recontextualização da mesma situação permitiu a reviravolta da realidade.
A impossibilidade é uma condição momentânea, e quem sabe disto não desiste. E nenhuma outra postura é tão instigadora de criatividade e intuição quanto o “não desistir”.
O simples fato de permanecer no “jogo” abre opções que, fora dele, ao se “jogar a toalha”, obviamente não existem.”
Eu acrescentaria uma possível pergunta que esse judeu talvez tenha se feito: “Como é que esse problema pode me tirar daqui?”.
Daí a necessidade de se ter coragem de questionar. Questões leves do dia a dia, profundas e filosóficas, éticas e da forma de fazer as coisas, questões que podem levá-lo para respostas inimagináveis, sejam quais forem.
Mergulhe na arte de questionar e viva essa aventura!
Abraço afetuoso,
Adriana Ferrareto
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