Já ouviu aquela frase “o que não é medido não é controlado”? Com nossas decisões, também funciona assim? Qual é a unidade de medida das suas escolhas?
Quando confrontados com decisões difíceis, se tivermos valores bem incorporados, poderemos passar na régua de valores e decidir com maior facilidade. Sem dizer que ficamos menos sujeitos à modismos ou a nossa própria instabilidade emocional que horas nos leva para um lado e em outros momentos, para outro, tornando assim difícil, escolher aquilo que realmente importa em nossas vidas.
Viemos de um extremo do pós guerra em que não podíamos nos dar ao luxo de escolher no que trabalhar, visto que ter um trabalho já era motivo de grande alegria e a razão determinante da sobrevivência, em um mundo que havia sido devastado e que precisava se reconstruir, superar seus dramas, suas perdas e ir adiante. Conseguir ter um emprego, salário fixo, construir sua casa, sua família, era o que mais motivava as pessoas.
Os valores predominantes eram de ser forte para sobreviver, ser obedientes e cumprir ordens, esquemas bem orientados de organizações, respeitar profundamente hierarquias, entregar o que prometeu fazer, cumprir horários, ser honesto, prover para a família.
Os papéis são altamente formais em uma pirâmide hierárquica. Comando e controle de cima para baixo ( o que e como). Estabilidade valorizada acima de tudo por meio de processos rigorosos. Futuro é repetição do passado. - Laloux
Sistemas como a Igreja Católica, as Forças Armadas, maioria das agências governamentais, sistemas de escolas públicas, são exemplos de como as coisas funcionaram durante esse período.
Para a época, os avanços que esse sistema trouxe foram os papéis bem definidos, estáveis e escaláveis. Quanto ao fato de haver processos, trouxe perspectivas de longo prazo, uma vez que era possível "prever" certos aspectos e se adiantar a eles e planejá-los, como a agricultura por exemplo.
Quando o cenário é observado à partir desses valores, faz sentido entender que a maioria das pessoas da época, sentia-se muito feliz ao cumprir todas as tarefas, mesmo de um jeito que para os padrões de hoje, possa parecer estranho.
Essas pessoas sentiam-se realizadas, pois viviam de acordo com os valores que acreditavam, e mesmo que o trabalho não fosse necessariamente um lugar de grandes alegrias, devido ao controle excessivo, muitas regras, punições, etc, ainda assim, as pessoas tinham uma sensação de que estavam fazendo o que tinha de ser feito, ficavam felizes de chegar em casa e verem que tinham casa, construída com o esforço daquele trabalho, que tinham jardins sem portões, e que naquela casa morava a família que aquela pessoa tanto quis construir.
Aqui não estou fazendo julgamento de se era certo ou errado, quero nesse texto, me ater a como o momento social, econômico, religioso e cultural, influenciam a forma como cada pessoa toma decisões e quais são os padrões que via de regra regem essas decisões.
O mundo avançou para uma próxima geração que eram os filhos dos caras do pós guerra. A vida já não tinha sido tão difícil quanto a de seus pais, em tese, a maioria teve uma casa, comida, pode ir à escola e até fazer uma faculdade. A pressão em seguir carreiras como advogado, médico e engenheiro era enorme, visto que eram consideradas as carreiras que mais davam retorno financeiro e status. Muita gente se empenhou em se formar nessas áreas, mesmo não sendo o que mais gostavam, mas o foco ali era ganhar dinheiro, muito dinheiro.
As empresas criaram mecanismos de cargos e salários baseados em incentivos, então, o que mais importava era gerar lucro, cortar custos, independentemente do que isso envolvesse, se iam fraudar seus demonstrativos financeiros, ou se a competição interna e externa fosse predatória, não importava, o objetivo para as empresas era vencer a concorrência e o que estava em jogo era ter muito dinheiro e obter a maior quantidade de bens de consumo, que pudessem dar evidências do tal "sucesso".
Então, mesmo se a pessoa não gostasse do que fazia, o carrão, a super casa, as roupas de marcas, ou qualquer outros símbolos que deixassem bem claro o quanto essa pessoa tinha dado certo, pelos padrões da época, era o que se levava em conta.
A inovação é a chave para ficar á frente. A gestão por objetivos de comando e controle focado no quê, dando liberdade para o como fazer. - Laloux
Exemplos de companhias multinacionais e escolas autônomas, ilustram muito bem essa fase e "jeito de ver o mundo".
Trouxe suas contribuições como a inovação, a responsabilização pelos próprios resultados e a meritocracia. Mas a consequência disso é as pessoas passaram a ser tratadas como máquinas, engrenagens isoladas.
Sem sombra de dúvidas, a forma como a sociedade se formou, contribuiu muito para o jeito como as pessoas faziam suas tomadas de decisão. O que importa em cada época, muda. Evidente que essa mudança aparece mais depois que as necessidades básicas estão satisfeitas : precisar se alimentar, ter acesso a energia, saúde, e trabalho é o essencial desde sempre.
Outro fator importante a ser levado em consideração, é o quanto estamos atentos ao que acontece além do nosso mundo pessoal e particular. Entender como o mundo está "ou não evoluindo" sob o aspecto estrutural e comportamental, é muito relevante, para nos certificarmos que o conjunto que valores que moldam nossas vidas, está pautado num estado de consciência claro.
Alguns dados apenas para que possamos repensar no quanto está dando certo o jeito como decidimos fazer as coisas em escala global. Sim pois as decisões primeiro passam pelo individual e depois para o coletivo, vejam só alguns dados encontrados no site da ONU:
Tem bastante coisa envolvida no jeito como a humanidade toma suas decisões, e observar essas dados acima, nos faz ver, que temos um longo caminho pela frente, de aprendizado, consciência, empatia, boa vontade, políticas internas e externas. O fato é que a inovação e evolução que vemos por aí, continua sendo para bem poucos, extremamente poucos.
Bom, se achou que a resposta para não errar mais na tomada de decisão fosse simples, me desculpe decepcioná-lo e fazê-lo chegar até essa altura do texto pra dizer isso, mas não é fácil e simples.
O jeito como formamos nossas crenças e valores, tem relação com camadas e mais camadas de circunstâncias como o que você aprendeu nas religiões sobre medo e castigo, certo ou errado, amor ou obediência; o que tua família te ensinou ou deixou de ensinar, inclusive pelo exemplo; as experiências que viveu na vida frequentando escolas, universidades, ao ambiente de trabalho, enfim, incontáveis camadas que formaram o jeitão como você pensa hoje, o que valoriza ou tem repúdio. Vimos no começo do artigo que o jeito como as pessoas valorizavam as coisas, inclusive a forma de escolher seus trabalhos, tinha total relação com isso.
O interessante disso, é que não se costuma parar para pensar do que é feito nossas crenças, nem se elas são boas ou não, e as decisões usam toda esse tecido de crenças como balizador. As consequências podem ser diversas, boas, ruins, boa para todos os envolvidos, boa só pra você e ruim para os demais, ruim para todo mundo, ruim para você e boa para os outros e quaisquer outras combinações possíveis que você imaginar. Parece que carecemos de ferramental para tomar boas decisões, e quando nos certificamos do conjunto de valores que temos e passamos nossas dúvidas / problemas por um filtro, pode ser que comecemos a encontrar boas respostas.
Mas isso exige mudança de hábitos. Não à toa que Fiódor M. Dostoiévsk disse:
O que mais receamos é o que nos faz sair dos nossos hábitos".
Quero propor algumas perguntas (Martin Roberts, Ph.D Change Management Excellence e L. Michael Hall) que possam ser úteis na hora de refletir sobre tomada de decisão em assuntos difíceis, daqueles de queimar a pestana, quem sabe tragam luz ao que de fato te importa, levando em conta que uma coisa é boa, quando o resultado disso, também impacta positivamente nos outros, então vamos lá:
Há um problema ou desafio? Por que é importante resolver isso?
Se é isso, como você sabe? Qual é a sua evidência?
Como isso é um problema? De que forma? Em que área? Para quem?
Quão ruim é o problema? Em qual porcentagem? Em qual nível de 0 a 10?
Onde o problema ocorre? Onde não ocorre?
Onde começa, onde termina?
Quem é afetado por esse problema? Quem mais é afetado por isso?
Há quanto tempo você tem esse problema?
Quando começou? O que originalmente deu início a ele?
Quem é responsável por resolver isso?
O problema é seu? De quem é o problema?
Em que grau você pode resolver isso?
Quem mais está envolvido na solução? Em qual extensão?
Quem mais quer resolver isso?
Quem não quer isso resolvido?
Existe alguma regra ou política a esse respeito?
Quais expectativas, demandas e permissões afetam esse problema?
O quer causou ou contribuiu para isso? Aqui entra minha contribuição pessoal (Adri Ferrareto): Que valores seus ou crenças podem estar contribuindo para o problema?
O que desencadeia o problema? O que mais contribuiu para isso?
Quais fatores influenciam esse problema?
O que o torna pior? O que o torna pior?
Como você mensura isso? Qual a sua fonte? (aqui entro eu novamente... quais valores seus são inegociáveis e que podem contribuir para essa decisão? Do que você não abre mão?)
Como os sintomas dominam o foco e a sua atenção?
O que acontecerá se o problema persistir?
A quem isso afetará? Como você sabe?
Como você tentou resolver esse problema?
O que você aprendeu como tentativa?
Como você ajustou sua responsividade quando não funcionou?
O que mais você tentou? O que você não tentou?
Por que isso é importante? Por que é um problema?
Quais são as possibilidades: quais soluções você poderia ter planejado?
O problema pode ser resolvido?
Se fosse possível, com o que a solução seria parecida?
Você tem o tempo necessário para resolver isso? O dinheiro? O pessoal?
É um expectativa irreal?
Como você saberá que tem um problema bem formulado?
Como você saberá que tem um problema solucionável?
Esse roteiro de perguntas ajuda a tirar crenças que possam estar limitando sua percepção em relação a um assunto que é um problema para você e que exige uma decisão da sua parte. Tomada de decisão é algo complexo, mas que pode ser feito com mais inteligência.
Se entender o impacto que o momento em que vive atual tem sobre você, a interferência de condições externas como a política, cultura, religião, família, economia, suas crenças e que conjunto de valores são inegociáveis, isso ajuda a colocar todas as cartas na mesa, escrever ideias, ponderar tudo o que está envolvido nessa tomada de decisão, levar em conta o que realmente importa, e ainda assim, estarmos cientes da nossa responsabilidade em arcar com as consequências, pois toda escolha significa ao menos uma renúncia, e terá seu preço.
Saia do porão da mente ao tomar duas decisões, use seus talentos, reforce seus valores pessoais e avante!
Abraço, afetuoso,
Adriana
Para quem ainda não está sabendo, no sábado dia 30 de março de 2019, farei um Workshop presencial em Curitiba, para as pessoas que desejarem descobrir quais são seus talentos e como utilizá-los em seu favor. Em princípio serão apenas 10 vagas, e quem tiver interesse em saber mais, e quiser participar, pode escrever para [email protected]
Vou atualizando vocês também por aqui, até breve!
Strengths Coach certificada pelo Gallup® Institute
Executive Coach Certificada pelo Integrated Coaching Institute (ICI)
Certificação Internacional em Coaching Integrado